Quando se esperava vida, vem a morte: perdas intrauterinas e de natimortos – por Márcia Noleto

Quando se esperava vida, vem a morte: perdas intrauterinas e de natimortos – por Márcia Noleto

O medo de perder o filho durante a gravidez é um tema recorrente. A expectativa natural da mãe e de seus familiares é por um parto tranquilo e que o bebê venha com saúde.

Ainda assim, mesmo que esteja tudo bem, o medo da morte súbita de um filho continua rondando as mães. Elas fantasiam as perdas e visitam frequentemente seus berços com a finalidade de verificar se eles estão respirando normalmente. Já durante a gestação, cada movimento do bebê no ventre materno é observado e, caso os pais percebam algo diferente, o obstetra é logo acionado.

Vamos a um exemplo: a mulher vai em uma consulta regular de pré-natal e, na hora da ausculta, a obstetra não consegue pegar o foco. E o diagnóstico temido – morte fetal – acontece. Tanto a paciente quanto a médica passam por um momento de tensão, choque e desordem emocional. E esse anúncio não é uma tarefa fácil para médicos. Geralmente, em ambientes hospitalares, eles preferem que psicólogos ou assistentes sociais o façam.

Nessas ocasiões, é frequente que a raiva seja transferida imediatamente para a equipe médica (que pode ser alvo de acusações de negligência). Para que isso não aconteça, reforço que o mais importante é que a família tenha acesso a todas as informações de forma clara. Assim, é possível tirar todas as dúvidas e entender o que aconteceu.

Além da morte intrauterina, o neném pode nascer vivo e morrer poucas horas após o parto. E, em outras ocasiões, ele nasce saudável, fica internado e falece dias ou meses depois. Nesse caso, os familiares têm a oportunidade de conviver, mesmo que brevemente, com a criança.

Vale lembrar também que não devemos fazer distinção entre a tristeza de mortes intrauterinas e aquelas acontecidas com bebês ou filhos mais velhos. Todas essas situações são extremamente dolorosas e marcantes. Mães que passaram pelas duas experiências relatam que a dor é não é maior nem menor.

Mesmo assim, em alguns casos, o luto em razão de mortes prematuras ainda é pouco reconhecido. Sem saber o que dizer para essas mulheres, não é raro ouvirmos de pessoas próximas frases como: “Você ainda é nova! Pode ter outro filho”; “Foi melhor assim, ele podia ter nascido com uma má formação”; “Você nem teve a oportunidade de conviver com ele!?”; ou “Vamos virar essa página?!”. O meu conselho é: nunca, em hipótese nenhuma, diga isso. Em consultório, o que eu mais escuto é que um simples abraço teria sido melhor.

O tema é difícil e, sem dúvida alguma, um momento extremamente difícil para mãe e para toda uma rede de familiares e amigos. O que proponho, nesse texto, é que não o transformemos em um tabu. Falar amorosamente sobre o assunto ainda é o melhor remédio e a terapia é um instrumento fundamental nesse processo. Com o auxílio de um bom terapeuta, as dores, no tempo de cada um, tendem a não serem mais silenciadas.

Márcia Noletoé Coordenadora do Núcleo de Psicologia do Centro Integrado Bella e atende todas as terças e quartas-feiras. Além disso, é Psicóloga da lista de notoriedade do Consulado Geral da França e da Clínica Endogastro. Para agendar um horário, entre em contato pelos telefones (21) 2530-4779/2537-8980/99578-5977.
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Comments

  1. Adriana Ataíde Fernandes Ramos : junho 17, 2019 at 7:24 am

    Passei e estou passando por isso. No dia 08/04/19 comecei a perder líquido,estava com 20 semanas de gestação, fui ao meu obstetra e ele constou que estava com dilatação do útero e que não poderia fazer nada a não ser fazer repouso. No mesmo dia tive um forte sangramento onde fui para o hospital. Chegando lá eles fizeram toque e iram que estava com dilatação. Minha placenta rompeu e perdi meu bebê. Tive que ficar com mamães que tiveram seus filhos. Aquele choro durante a noite todo cortava minha alma. Saí de lá sem meu bebê nos braços E sim no caixão. Tive que enterrar meu bebê. Que dor. Não consigo explicar o tamanho dela. Procurei ajuda psicológica e estou em tratamento. Mais aí vem uma questão. E o pai? Meu esposo se fez forte para eu poder ser forte. Quando ele viu que eu estava Melhor, ele desabou. Já faz dois meses e para ele parece que foi ontem. Ele não se conforma. Ele não aceita. E ao invés de eu melhorar estou voltando ao fundo do poço. Ele não quer ajuda. Nosso casamento está estremecido. Porque eu quero dar um irmão para o meu anjo Lorenzo e ele não quer mais. Estou procurando tratamento e ele não me acompanha.Mais creio que essa tempestade vai passar. Temos que voltar nossos olhos também para eles.

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